ORIGINÁRIOS
Originários é uma releitura das pinturas afro e dos povos originários, utilizando-se da tecnologia das maquiagens atuais, e os quatro elementos naturais é uma conexão do passado com o presente, sob a ótica das novas técnicas.
Para a criação das obras utilizo tintas da Colormake e pinceis de maquiagem, pinceis de pintura de parede, esponjas e aerógrafo.
Todo o processo de criação é intuitivo e sempre tento conectar a pintura com a característica que quem eu estou pintando.
Sintetizando o Originários, é um projeto de releitura das pinturas corporais que atravessam centenas de anos na humanidade, como forma de proteção, comunicação, protesto e identidade.
Logo após as fotos você acompanha o texto de pesquisa realizado em parceria com o antropólogo Fabio Luiz Pimentel
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Originários is a rereading of Afro paintings and native peoples, using current make-up technology, and the four natural elements is a connection between the past and the present, from the perspective of new techniques.
For the creation of the works I use Colormake paints and makeup brushes, wall painting brushes, sponges and airbrush.
The entire creation process is intuitive and I always try to connect the painting with the characteristic of who I am painting.
Synthesizing Originários, it is a project of re-reading body paintings that span hundreds of years in humanity, as a form of protection, communication, protest and identity.
Right after the photos, you can follow the research text carried out in partnership with the anthropologist Fabio Luiz Pimentel
ORIGINÁRIOS
Releitura fotográfica de grafismos afro e originários na cultura urbana.
Este Projeto tem o objetivo de estabelecer os fundamentos culturais nos quais se baseia a experiência de releitura fotográfica que aborda os grafismos africanos, afro-brasileiros e de povos originários, no Brasil e no mundo, no sentido de propor maquiagens que têm, nestas experiências histórico-culturais, o foco do novo trabalho proposto pelo fotógrafo Leandro Augusto Pires: uma Releitura fotográfica de grafismos afro e originários na cultura urbana.
A relação entre a sociedade e a arte ocorre a partir do emprego da sensibilidade humana sobre o mundo, assim como de seus fenômenos por meio da percepção cognitiva mais complexa da mente humana. Por isso é indiscutível que historicamente a arte se constitui em uma forma do homem se expressar ao longo de sua existência.
A percepção como instrumento da sensibilidade favorece a concretização das várias formas de expressão da arte, como a fotográfica – corporal, na transposição do mundo real e imagético a uma compreensão dos signos do mundo presente. Neste sentido, a arte é um canal de aprendizagem, de conhecimento de coisas que não se consegue articular na vida concreta. O grafismo é uma forma de expressão, pois, na história da arte, este se faz presente desde a pré-história, nas pinturas rupestres, como as primeiras impressões do homem sobre o mundo que o cercava.
Um dos elementos que compõem os grafismos desse Projeto é a utilização da maquiagem, que surgiu no Egito Antigo por volta de 3.000 a.C., onde a pintura dos olhos era feita com o objetivo de refletir sua alma. Essas pinturas eram feitas com o Kohl, um pigmento preto utilizado como sombra para sublinhar o contorno dos olhos e das sobrancelhas. Além disso, também servia como proteção aos olhos contra bactérias e poeiras do deserto. A estética surgiu na Grécia, antiga como uma disciplina da filosofia que estuda as formas de manifestação da beleza natural ou artística.
Estas são as origens e o contexto histórico de criação de uma cultura cosmética no mundo.
O belo ou a beleza são conceitos dinâmicos que encontram diferentes representações ao longo da história em culturas diversas. O belo sempre desafiou artistas e filósofos com sua preponderância. As estátuas, os templos das Acrópoles gregas, os retratos de Leonardo da Vinci, as mulheres de Gauguin, representavam o belo, mas um belo profundamente diferente a cada momento. É certo que a estética teve desde o princípio dos tempos um papel muito importante ligado à beleza, bem estar, sedução e a arte.
Arte educação e povos originários.
Este trabalho é um diálogo entre a cultura afro e originária através das artes visuais, como forma de construir conhecimento e uma didática plural no Ensino de Arte no Brasil através de suas instituições promotoras de uma cultura artística. O trabalho procura ressaltar a importância da pesquisa contínua por parte do fotógrafo como arte-educador, para compreender melhor as várias propriedades da arte.
A Pesquisa em artes visuais proporciona um estudo mais aprofundado a respeito da fotografia de grafismos, especificamente o grafismo corporal, assunto este, que fascinou este artista pela forma precisa dos traços e seus significados, e pela importância que as manifestações indígenas têm em nossa sociedade, como um povo a parte a nossa cultura. Um mergulho na cultura da “arte indígena” tem como exemplos, o grafismo corporal na pintura dos povos Xerente, Yanomami, Kadiwéus, Kayapós-Xikrin ou Assurini.
O conhecimento da arte indígena ainda é marcado, no Brasil, pelo privilégio das artes europeias, o grafismo artístico indígena ficou no esquecimento de nossa história. O que Leandro Pires propõe é levar este conhecimento da cultura como algo ricamente elaborado às exposições da arte, espaços culturais dedicados à arte-educação, como as galerias de São Paulo.
Historicamente, a formação étnica do povo brasileiro se dá na junção do índio, negro e brancos, como aprendemos com o antropólogo Darcy Ribeiro em seu livro o Povo Brasileiro, o povo nação do Brasil surge a partir de uma sociabilidade. Durante esse processo vão desencadeando conflitos em todos os níveis desde as disputas territoriais socialmente, economicamente pela escravidão tanto de indígenas aqui existentes como dos negros que arrancados de sua terra de origem e pelos europeus pelo poder mercantilista. Considerando a cultura indígena, com seus grafismos, e dos escravizados através dos seus cultos religiosos. Busca-se através dos grafismos a relação entre religiosidade e a espiritualidade nacional, estabelecendo sua relação com a cultura urbana.
Arte africana e afro-brasileira.
A construção do corpo como modo de produção social, histórica e cultural, é presentificada na arte de afro-descendente. Um corpo que não é apenas biológico, mas que se manifesta de modo implícito, revelando uma estrutura social pautada na herança socioeconômica. Desse modo, a configuração de uma imagem corporal pertence a um indivíduo e é confrontado no reconhecimento de um corpo social sustentado na afirmação de uma identidade coletiva.
Leandro Pires articula a cultura popular, a arte popular, como modo referencial de uma produção contemporânea, influenciadas por diversas matrizes, representadas por povos de diferentes origens. Pesquisadores (as) afirmam haver uma influência dos povos de origens bantus e sudanesas na constituição de uma cultura brasileira. O que distingue esses povos é a visão cosmogônica e como o sagrado se manifesta. Os sudaneses concentraram-se durante o século XVIII-XIX na Bahia dominando as outras culturas negras aqui introduzidas. Cultura material e imaterial que faz referência à religião dos Orixás, por exemplo.
A experiência do sagrado torna contemporâneo o acontecimento primordial. O povo conserva as tradições pela atualização dos mitos. É por meio dele que o homem se encontra dramatizado e cria uma proximidade com as divindades, e o mito vem acompanhado com o rito e o rito realiza o mito e permite a vivência. O rito remete ao tempo de origem pela repetição do ato criador dos deuses permitindo todo gesto criador humano, não importando o seu plano de referência, terreno ou divino. A arte popular, que este artista promove através da relação com os (as) modelos, expressa uma visão poética, existente a partir do instante em que é vista e promovida.
Sua funcionalidade está no processo concluído do objeto da fotografia como um artefato artístico. Leandro Pires tem pesquisado elementos singulares da cultura popular como modo referencial de uma produção contemporânea, com o recurso à maquiagem, para o registro destas heranças culturais que é cultivada pela memória através do uso de grafismos nos corpos dos povos da Diáspora negra e originária e de releituras fotográficas desta expressão sobre a cultura urbana da cidade de São Paulo.
Texto escrito por Fabio Luiz Pimentel, historiador formado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Mestre em Antropologia Social, na Linha de Pesquisas em Etnologia Indígena pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
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